A talassemia é uma condição genética que afeta a produção de hemoglobina, proteína essencial para o transporte de oxigênio no sangue. Embora muitas mulheres com talassemia vivam normalmente, a gravidez em mulheres com essa condição exige cuidados específicos e acompanhamento multidisciplinar rigoroso.
Neste artigo, você vai entender o que é a talassemia, quais os riscos envolvidos na gestação, quais são os exames essenciais, os cuidados no pré-natal e o que pode ser feito para garantir uma gravidez segura e saudável para mãe e bebê.
O que é Talassemia?
A talassemia é uma doença hereditária do sangue, classificada como uma hemoglobinopatia. Ela afeta principalmente a produção das cadeias de globina (alfa ou beta) que compõem a hemoglobina.
Existem dois tipos principais:
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Talassemia alfa: afeta a produção da cadeia alfa da hemoglobina;
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Talassemia beta: mais comum, afeta a produção da cadeia beta.
Ela pode se manifestar de forma leve (talassemia minor) ou grave (talassemia major). Mulheres com talassemia minor (traço talassêmico) geralmente têm poucos ou nenhum sintoma, enquanto aquelas com formas mais severas exigem transfusões frequentes e tratamento contínuo.
Gravidez em Mulheres com Talassemia
A gravidez em gestantes com talassemia representa um desafio clínico, pois tanto a doença em si quanto os tratamentos anteriores (como transfusões e uso de quelantes de ferro) podem impactar negativamente a saúde materna e fetal.
É fundamental que a gravidez seja planejada e acompanhada desde o início por uma equipe composta por:
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Obstetra de alto risco;
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Hematologista;
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Nutricionista;
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Cardiologista (em casos com sobrecarga de ferro);
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Especialistas em fertilidade (quando necessário).
Principais Riscos para Gestantes com Talassemia
Mulheres com talassemia enfrentam alguns riscos aumentados durante a gestação, como:
1. Anemia severa
Devido à deficiência na produção de hemoglobina, é comum que a gestante precise de transfusões de sangue frequentes para manter os níveis adequados de oxigenação, prevenindo sofrimento fetal e fadiga materna intensa.
2. Sobrecarga de ferro
As transfusões crônicas podem levar a um acúmulo de ferro nos órgãos, especialmente no coração, fígado e glândulas endócrinas. Durante a gravidez, o uso de quelantes (medicamentos para reduzir o ferro) é geralmente suspenso, o que exige monitoramento constante da ferritina e função cardíaca.
3. Infertilidade e complicações hormonais
Algumas mulheres com talassemia major podem apresentar hipogonadismo (falência ovariana precoce) devido ao depósito de ferro na hipófise. Nestes casos, pode ser necessário recorrer à fertilização in vitro (FIV) com suporte hormonal.
4. Diabetes gestacional e hipertensão
A sobrecarga de ferro também pode afetar o pâncreas, predispondo à intolerância à glicose. Monitorar a glicemia é essencial para detectar precocemente o diabetes gestacional. Além disso, há maior risco de hipertensão arterial durante a gravidez.
5. Risco genético para o bebê
A talassemia é uma doença recessiva. Se o parceiro da gestante também for portador do traço talassêmico, há 25% de chance de o bebê nascer com a forma grave da doença. Por isso, é fundamental fazer o teste genético do pai antes da concepção.
Cuidados Pré-Concepcionais
Antes de engravidar, a mulher com talassemia deve passar por uma avaliação completa, incluindo:
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Níveis de hemoglobina e ferritina;
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Eletrocardiograma e ecocardiograma;
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Ressonância magnética do coração e fígado (para avaliar sobrecarga de ferro);
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Avaliação hormonal e fertilidade;
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Triagem para hepatites e HIV (devido a transfusões anteriores);
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Teste genético do casal.
Caso a gestação já esteja em curso, essas avaliações devem ser feitas o mais cedo possível.
Acompanhamento no Pré-Natal
O pré-natal de gestantes com talassemia deve ser feito com acompanhamento especializado e frequente, incluindo:
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Hemogramas mensais (ou mais frequentes, se necessário);
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Monitoramento da ferritina sérica;
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Ultrassonografias regulares com Doppler fetal;
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Avaliação cardíaca trimestral;
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Reposição de ácido fólico, vitamina D, cálcio e ferro, conforme orientação médica.
Transfusões regulares podem ser necessárias para manter a hemoglobina acima de 10 g/dL. A administração de ferro só deve ser feita quando há comprovação de deficiência (o que é raro nesses casos).
Trabalho de Parto e Pós-Parto
A via de parto deve ser individualizada. Se não houver complicações, o parto normal é possível, mas muitas gestantes com talassemia são submetidas à cesariana devido a:
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Baixa reserva funcional;
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Comprometimento cardíaco;
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Histórico obstétrico.
O parto deve ocorrer em hospital com estrutura para atendimento de alto risco, banco de sangue disponível e UTI neonatal, caso necessário. No pós-parto, é importante retomar o uso de quelantes de ferro com segurança, monitorar o estado nutricional e tratar possíveis alterações hormonais.
Lactação e Talassemia
A maioria das mulheres com talassemia pode amamentar normalmente, desde que não haja contraindicação ao uso de medicamentos. O ferro presente no leite materno é pequeno e não traz riscos ao bebê, mesmo se a mãe estiver fazendo reposição.
FIV em Mulheres com Talassemia
Para mulheres com hipogonadismo secundário ou dificuldade de ovulação, a fertilização in vitro (FIV) é uma alternativa viável. Muitas clínicas especializadas em reprodução assistida já oferecem protocolos específicos para pacientes com talassemia, sempre com monitoramento hematológico e endocrinológico.
Antes do tratamento, é essencial equilibrar os níveis de hemoglobina, avaliar a função hepática e cardíaca, e planejar a suspensão segura dos quelantes.
Conclusão: Gestantes Talassêmicas Podem Ter Gravidez Segura com Apoio Especializado
Embora a talassemia represente riscos adicionais durante a gravidez, o avanço da medicina e o acompanhamento multidisciplinar tornam possível que muitas mulheres com essa condição tenham gestações bem-sucedidas e filhos saudáveis.
O segredo está em planejamento reprodutivo, diagnóstico precoce, monitoramento intensivo e cuidados personalizados.
Se você é portadora do traço talassêmico ou tem a forma mais grave da doença, procure um centro de referência em hemoglobinopatias e converse com seu ginecologista. Com acompanhamento adequado, a talassemia não é uma barreira para a maternidade, mas um fator que exige atenção, ciência e cuidado contínuo.
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